Resolvi desenterrar este post do meu baú de memórias.
Hoje está um daqueles dias em que valia a pena ter trazido uma máquina fotográfica, menos mal, vou tentar descrever o que vejo e o que sinto.
Está um ceu cinzento, pintado de azul aqui e ali, de vez em quando o sol rasga por entre as nuvens para me banhar com os seus raios, luminosos, intensos. Ao olhar para o mar, uma imensidão calma, algumas ondas pequenas batem nas rochas, vejo uma faixa de luz reflectida na água. Acima do horizonte nuvens cinzentas, raios de luz atravessam-nas provocando manchas claras, longínquias, não há vento.
Sinto-me em paz, ouço o primeiro cd de Dead Can Dance, deliro com a imagem. Todos os maus pensamentos desaparecem.
Daqui a vinte minutos tenho que ir trabalhar, está quase na hora de voltar para o mundo real, bruto e insensível, materialista, consumista e muito egocêntrico. Não quero, queria ficar aqui no meu canto, no meu mundo de fantasia, sozinho mas em paz…
Ouço alarmes dentro da minha cabeça, estou a entrar em modo de auto-destruição; não posso, tenho que sair disto, tenho que me render às evidências e prosseguir.
Tenho que aceitar que não sou verdadeiramente aceite e compreendido, e provavelmente nunca serei; digam-me que estou a ser pessimista, negativista, derrotista e eu direi que sim. Mas se eu não conhecer o pessimismo, nunca conhecerei o optimismo.
Todos me dizem que um dia vou ser verdadeiramente feliz… se calhar… eu acho que não, mas tudo é possível.
Não, não estou à procura do fim antes de acabar, estou simplesmente a ser realista a um nível extremo. Não me iludo com promessas de dias melhores, quando sinto que eles não virão. Sou e serei sempre um incompreendido; tenho como exemplo as minhas relações passadas: tudo o que dizia ou fazia era interpretado como tendo alguma intenção por trás, quando na verdade tudo o que digo, faço e sou é genuíno, sem qualquer plano maquiavélico por trás. Quando sou mau, sou-o frontal e directamente, e para eu ser mau é preciso pisarem muito mesmo. Nessa altura não sou mau, sou um monstro, frio, cruel. Perco toda e qualquer consciência até as coisas arrefecerem.
O pior vem depois, quando a frieza descongela, sou invadido por uma culpa terrível. Até posso pensar que a pessoa o mereceu, no entanto eu nunca deveria ter sido desta ou daquela maneira; e choro que nem um desalmado, fico com raiva de mim próprio por me ter transformado naquele bicho.
O pior vem depois, quando a frieza descongela, sou invadido por uma culpa terrível. Até posso pensar que a pessoa o mereceu, no entanto eu nunca deveria ter sido desta ou daquela maneira; e choro que nem um desalmado, fico com raiva de mim próprio por me ter transformado naquele bicho.
Eu
01.12.2003
14:15