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O Dragão

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Um homem caminha solitário pelo meio de uma cidade em ruínas. Levanta-se uma brisa ligeira que brinca com o cabelo dele. Leva consigo uns óculos do deserto, no meio de uma tempestade de areia. A toda a sua volta apenas vê pedaços de edifícios, restando apenas alguns de pé. Ao longe ouve aquilo que parecem ser canas de bambú a bater umas nas outras; poderão ser apenas tubos soltos a abanarem com o vento. Aqui e ali consegue ver restos de alcatrão, daquilo que já foram em tempos estradas movimentadas.
Ao chegar a um cruzamento repara em semáforos caídos, candeeiros apagados. Entra num dos poucos edifícios que ainda está de pé; já foi um hotel, agora nada resta além de móveis em pedaços. A bancada da recepção ainda está semi-inteira e um livro de hóspedes comido pelo tempo repousa em cima dela.

Ouve sons humanos à sua volta, passos rápidos e o click de armas a serem carregadas. Estando no meio do hall de entrada é um alvo fácil, esconde-se atrás de uma coluna de mármore empoeirado. Fecha os olhos e começa a dar mais atenção aos sons, ao contar os passos apercebe-se que são quatro pessoas; retira duas Glock do bolso e prepara-se para qualquer eventualidade.

O som dos passos está mais forte, vêm todos do mesmo sítio, uma escadaria enorme que está no lado oposto da coluna onde se esconde.
Os passos param e uma voz ecoa pelo hall:

– Quem está por aí?
– EU!
– Eu quem?
– Para já, não precisam de saber mais. Que querem de mim?
– Nada, estamos apenas curiosos! Mostra-te.
– Primeiro guardem as vossas armas.
– Estão guardadas.

Ele sabia que os estranhos não tinham guardado as armas. Não ouviu qualquer som das sub-metralhadoras a serem penduradas no ombro. Reparou através de um candeeiro de cristal que estava pendurado por cima da porta de entrada que conseguia ver o reflexo deles. Eram quatro homens, com uma média de um metro e setenta de altura, magros. Vestiam farrapos como roupa, umas botas impressionantemente limpas e as armas apontavam para todo o lado. Quatro H&K MP5 empoeiradas, provavelmente algumas munições encravavam devido à idade.

– Baixem as armas, não vos quero magoar.
– Pois, claro. É já.

Com um rodopio, virou-se e disparou as duas Glocks quatro vezes, acertando em cada uma das MP5, inutilizando-as de imediato. Boquiabertos, iam tentar sacar das pistolas que tinham no coldre, mas reconsideraram. Apesar de serem quatro e ele ser apenas um, a maneira como ele os desarmou foi extremamente rápida e eficiente, era nitidamente algum profissional.

– Quem são vocês – Disse ele nunca baixando as suas Glocks.
– Somos habitantes locais, dos poucos que restaram depois das “Armada”. E tu quem és?
– Sou “O Dragão”.
– Não acredito! És um mito, nada mais do que uma lenda! Prova que és o Dragão.

O Dragão tira o coletes de kevlar, levanta a camisa preta e mostra-lhes a tatuagem do Dragão que envolvia todo o seu tronco. Segundo dizia a lenda, o Dragão foi uma criança que sobreviveu às tempestades “Armada”. Conta-se que esteve no meio de um furacão e saiu ileso. A criança perdeu a sua família nessas mesmas tempestades e vive sozinha deste então. Aprendeu artes marciais, aprendeu a usar armas, táticas de batalha e nunca teve qualquer mestre ou qualquer pessoa que o acompanhasse. Tem vagueado pelas cidades e aldeias em ruínas chegando agora a esta cidade.
As tempestades “armada” foram resultado de séculos de poluição provocada pelo ser humano. As condições climatéricas do planete foram-se deteriorando com o passar dos séculos, culminando com uma série de tempestades de devastaram o planeta por inteiro, levando a espécie humana à quase extinsão. Países inteiros desapareceram, cidades foram arrasadas, biliões morreram. Aqueles que restaram, sobrevivem actualmente tentando reconstruir o mundo. A agricultura começa a funcionar novamente aqui e ali.

Para já acabou, talvez continue, talvez não. Logo se vê, conforme a minha vontade.