Grandes dilemas são debatidos, discutidos, filosofados e conversados entre mim e mim na minha própria cabeça… Credo que é muito eu junto na mesma frase.
Hoje está a ser um dia particularmente difícil. Talvez seja do cansaço, já estamos quase no fim de semana e não tenho dormido muito. Não me queixo, eu acordo sem sono e aparentemente o meu corpo indica não precisar de mais e no entanto sinto um certo cansaço mental… sim, mental porque emocionalmente estou completamente arrasado. Sinto-me triste pelas mais variadas razões e a acresentar a isto sinto-me zangado.
Pensei várias vezes em escrever aqui as causas da minha tristeza e da minha zanga mas não o vou fazer. Estou a passar por um processo de cura… um processo que só por si já é extremamente doloroso, envolve mexer e remexer em feridas muito antigas, tentar colocar-lhe pensos para ajudar na cicatrização; E como se isto não fosse suficiente, junto-lhe um processo de luto também muito doloroso.
Creio que, com tudo isto em cima dos meus ombros, é natural que eu me sinta triste e ao mesmo tempo zangado. Sim, a zanga é apenas uma máscara da dor, no entanto sinto-a, uso-a como minha. Sinto-me zangado comigo próprio por me ter permitido chegar a este ponto de dor, por ter aparado todos os golpes que me feriram desta forma. Assumo total responsabilidade pelo estado em que estou, a minha inacção perante o que me fazia mal levou-me a este estado. Assumo isto e curo as minhas feridas.
Ouço esta música e sinto-a espelhar com uma exactidão quase milimétrica tudo aquilo que estou a sentir: uma fúria enorme seguida de uma dor profunda, triste.
Sou como um navio no oceano, no meio de uma tempestade perfeita. Ventos selvagens percorrem a superfície da água e levantam vagas gigantes que arrastam tudo no seu caminho. Sinto-me a subir paredes de água que parecem não ter fim para depois do outro lado cair de cabeça na água levantando grande almofadas de espuma. Lá ao fundo a uma distância imensurável conseguem vislumbrar-se raios de sol a irromper pelo meio das núvens cinzentas. As águas acalmam à medida que nos aproximamos, a luminisidade aumenta e a temperatura sobe devagar. O frio começa a desaparecer e fica apenas um quentinho bom por dentro.
Ao longo da minha vida escrevi várias cartas de amor, onde declarava o amor que sentia por alguém. Descrevi ao pormenor todas as borboletas que tinha no estômago, as suas cores, a intensidade com que batiam as asas. Falei do que queria, prometi o mundo e mais ainda. E no entanto nunca escrevi uma carta de amor a mim próprio. Sempre amei outras pessoas e quase sempre colocando-me em segundo lugar. Achava eu que amar-me era um acto egoísta e narcisista, quando na verdade eu não consigo entregar-me na totalidade se não me amar. Eu sempre pensei e senti que me entregava na totalidade e na verdade era apenas uma entrega total de parte de mim.
Acho que está na hora de escrever uma carta de amor de mim para mim.