Que saudades que eu tenho de um abraço.
Um abraço que envolve, que nos faz sentir protegidos, confortáveis, desejados. Sem dúvida que eu dou muito mais importância a um abraço do que a um beijo ou qualquer outra forma de carinho. Um abraço não pode ser falsificado, é impossível dar um falso abraço, ao fazê-lo a outra pessoa nota logo. Agora por exemplo, um beijo, com muito jeitinho até dá para falsificar, nunca o fiz, mas já mo fizeram. Não foi muito bem disfarçado, mas também não foi uma falsidade que se notasse a milhas de distância. Ficou naquele limiar entre o falso e o verdadeiro, deixando-me a pensar que poderá ter sido um beijo falso, sem sentimentos por trás, mas ao mesmo tempo sem ter essa certeza.
O que mais me espanta é a pouca importância que se dá aos abraços hoje em dia, e cada vez menos importância tem à medida que esta sociedade urbana tende a ser mais e mais individualista. Hoje em dia, trocam-se carinhos como se fosse um bem comercial, é beijo para aqui e para ali porque está na moda cumprimentar com um ou com dois beijos. A sociedade urbana dos dias de hoje dá cada vez menos valor aos sentimentos profundos do indivíduo, cada vez mais estamos virados para o materialismo puro, a única coisa que interessa é o palpável, tudo o que seja psicológico são tretas.
Pois eu não sou assim, não quero ser assim. Recuso-me terminantemente a ceder ao materialismo; ao longo da minha vida trintona, provei das mais diversas maneiras que me estou nas tintas para o materialismo. Sou incapaz de ter uma relação materialista, daquelas em que “eu namoro contigo porque o sexo é óptimo”. Mas inevitavelmente as relações que tive acabaram, muito possivelmente, devido a ter esta natureza desprendida do físico. Talvez tenham acabado por uma simples razão: “já não me dás pica! Prefiro andar por aí a curtir com quem me apetecer e quando me apetecer em vez de ficar presa a ti!”; pois, um exemplo clássico da busca pelo prazer imediato e físico, pondo completamente de parte aquilo que no fundo é o que nos distingue como seres humanos, racionais. Somos considerados animais racionais porque pensamos, temos sentimentos, uns instintivos mas outros são conscientes. É claro que ninguém decide amar este ou aquele, mas há sempre ou quase sempre decisões conscientes sobre o rumo que os sentimentos tomam.
Talvez eu esteja a ser velho e antiquado nesta maneira de pensar, mas não vou mudar, sou um caso perdido de romantismo, acredito piamente que há muito mais para além do mundo físico; cada ser humano tem dentro de si um universo infindável de sentimentos e emoções, algo de metafísico. Só que cada vez mais seres humanos estão a renegar o seu lado metafísico para abraçar o seu lado físico. Não gosto do rumo disto, qualquer dia viro ermita.
Boa tarde, até logo
[…] pouco mais de três anos, mais precisamente no dia 23 de Abril de 2005 escrevi um post sobre o abraço. As saudades que eu sentia de um abraço.Hoje ao navegar pela […]