Após multiplos pedidos de várias famílias (apenas eu pedi) resolvi escrever uma pequena, talvez um pouco longa, fábula sobre a minha ida a um evento da empresa no LX Factory em Alcântara. Para contextualizar, trabalho numa empresa multi-nacional de origem Finlandesa; empresa essa que está dividida em várias organizações, cada uma dedicada a uma área de negócio diferente. Hierarquicamente a empresa tem um presidente e cada organização por sua vez tem o seu presidente. Agora que isto está resolvido, comecemos.

Ao terceiro dia do mês de março do ano 2023 (sexta-feira passada ou antes de ontem) realizou-se um evento no LX Factory em Alcântara pela a organização na qual trabalho. Esse evento foi chamado de face-toface town hall. tivémos como oradores o presidente da organização, o “country manager” da península ibérica e a directora de recursos humanos. O evento começou às 16h30 e durou pelo menos até Às 19h00. Isto ainda foi um pouco de contextualização para quem possa não ter percebido.

Saí de casa pelas três e meia da tarde e desloquei-me para Alcântara. Chegando ao local iniciou-se a árdua tarefa de procurar lugar para estacionar. Após algumas voltas ao quarteirão lá consegui estacionar perto do Pingo Doce. Ainda pensei em estacionar na garagem do super, mas achei melhor não o fazer por multiplas razões. Carro estacionado e dirigi-me para o recinto; quando lá cheguei procurei pelo local e acabei por descobri-lo porque havia uma fila interminável de gente. Pensei logo: “ena, tanto colega que eu não conheço”. Acrescentei-me à fila e esperei calmamente enquanto esta avançava devagarinho. Enquanto esperava reparo num moço que paracia um Messi mas bastante mais alto e mais magro, como se tivessem pegado no Messi e o tivessem passado por uma máquina de fazer esparguete. Adiante. Esse reparei no moço porque ele andava ali a cirandar para a frente e para trás a olhar para a fila com muita atenção. Estava já eu a chegar à porta e estava uma das moças da organização do evento a explicar ao pessoal que ao chegarmos à porta haveria 4 mesas e que teríamos que nos dirigir para a mesa que correspondesse à primeira letra do nosso nome, como fazem nas mesas de voto. Senti de imediato que iria ser uma coisa bonita, bem organizada assim e tal. Ao mesmo tempo ocorreu-me o pensamento: “Quer dizer, se eu não tivesse vindo iria parar a uma lista negra de pessoal que não compareceu ao beija-mão”. Enfim.
A moça acaba de explicar a coisa e eis que aparece o Messi-look-a-like, desta vez acompanhado pela sua namorada/esposa/irmã/whatever e começam a perguntar em castelhano onde é que podem comprar bilhetes para entrar ali. A moça começa a responder-lhes num castelhano perfeito que aquilo é um evento de empresa e que é só para funcionários, no entanto a menina do Messi não “deslarga” e insiste que quer entrar e que quer participar. Enquanto isso o Messi ao perceber que aquilo é de facto um evento privado vira-se para mim e ri-se muito como quem diz “ena e eu a pensar que estavam a dar bolos aqui”.

O casal espanhol finalmente percebe que dali não leva nada e segue em frente. Entretanto eu entro, dirijo-me à minha mesa, mostro o cartão de funcionário e a menina começa à procura do meu nome nas folhas com a lista de funcionários que se registaram para ir ao evento. Passados alguns segundos ela chega ao fim da lista e o meu nome não está lá pelo que ela escreve-o mais abaixo no papel e está feito. Pensei logo: “Então mas«… eu registei-me lá no site como manda a lei, recebi o email de confirmação e agora o meu nome não estava na lista? Quer dizer que eu poderia NÃO ter vindo e não ter ido parar à lista negra? Damn”. Entrei, passei à mesa seguinte onde estavam a dar fitas para pendurar o cartão de funcionário. Havias várias cores e eu perguntei se havia uma de arco-iris, era uma fita muito gira em que as cores eram amarelo, azul, laranja, vermelho e rosa tipo arco-iris mas na verdade era um gradiente que passava pelas cores todas. Já não havia, fiz beicinho e pedi a amarela. Um pouco mais à frente estavam a dar as t-shirts da empresa. Disse o meu número (L para quem estiver interessado em oferecer-me roupa), e o moço perguntou-me qual era a cor que queria. Como já estava desiludido por não ter a fita arco-iris disse que poderia ser qualquer uma. Deu-me uma t-shirt amarela.

Isto feito, entro no recinto, visto a t-shirt por cima da minha camisola de malha. Não me ia despir ali à frente daquela malta toda. Não é que seja púdico, era mais para não fazer inveja aos outros gajos e para proteger os olhos sensíveis das meninas. Além disso, toda a gente tinha a t-shirt vestida por fora.

Olho em volta à procurar do pessoal da minha equipa. Não é tarefa fácil, aquilo estava à pinha, só conseguia ver cabeças por todo o lado. Apesar disso foi relativamente fácil e rápido encontrar o pessoal. É claro que compensa ter uma pessoa na equipa com um metro e noventa de altura, no meio daquelas cabeças todas lá estava ele bastante acima do resto das pessoas. Fui até lá, cumprimentei o pessoal todo, alguns que já não via há algum tempo, e lá aguardámos calmamente até que começassem os discursos. E, certinho direitinho, começou.

Não vou descrever os discuros, até porque não me lembro de uma única palavra que tenha sido dita. Avanço apenas que foram os discursos típicos da empresa que temos feito um bom trabalho mas que ainda temos que fazer mais e que temos que “crescer” mais, etc. bla, bla, bla. Primeiro falou o “country manager” (não sei mesmo qual é o nome do cargo em português e não me está a apetecer ir à procura). Depois falou o presidente da organização e de seguida tivémos direito a umas breves palavras da directora de recursos humanos. No final veio a típica sessão de “Q&A”, onde foram dadas respostas a perguntas que foram feitas previamente pelos funcionários e também algumas perguntas feitas ali naquele momento.

Durante os discursos conseguia ouvir-se um murmurinho relativamente baixo no meio da audiência. Percebia-se que as pessoas estavam a comentar umas com as outras aquilo que estava a ser dito. Quando chegámos às perguntas e respostas o murmurinho aumentou substancialmente de volume ao ponto daquilo começar a parecer um restaurante cheio de gente. Daqueles onde toda a gente está a conmversar mais alto do que o vizinho da mesa do lado! Chegou ao ponto em que um dos oradores teve que pedir ao pessoal para falar um pouco mais baixo porque quase não se conseguia ouvir quem estava a perguntar algo e por sua vez que estava a responder. É claro que o volume não baixou absolutamente nada, numa moda tipicamente “tuga” de “tou-me a cagar para os outros, a minha conversa com o meu vizinho é que é importante”. Eu pessoalmente também não estava muito interessado nas perguntas que estavam a ser feitas nem nas respostas, no entanto por respeito a quem ali estava mantive-me em silêncio relativo e quando falava com o vizinho sussurrava.

Durante todo este tempo fiz aquilo que sempre faço, observei as pessoas à minha volta. Reparei em três miúdas novinhas (provavelmente estagiárias ou recém-licensiadas); estavam as três, lado a lado, uma sentada num muro alto e as outras duas em pé encostadas o mesmo muro, todas com a cabeça enterrada no telemóvel. Aquilo estava de tal maneira que me perguntava como é que é possível o pescoço humano manter aquelas posições durante tanto tempo assim, sem provocar torcicolos.

Pelo meio da multidão circulavam dois ou três funcionários da empresa de catering a recolher os copos do pessoal.

Ah, é verdade, o catering.

Incialmente havia apenas suminhos e coisas assim. Nada de comes, nem uns míseros rissóis. Pelos vistos não queriam ninguém bêbado ou cheio antes de acabarem os discursos. Pelo menos depois de terminarem os discrusos e a sessão de perguntas e respostas começaram a servir Champomy. Não, estou a brincar, era um espumante meio adocicado, mas fraquito. Não era mau, mas também não era nada de especial. Serviram também uns canapés (ou algo assim parecido). Eram umas espetadas de tomate cherry e mozarella fresco. Cada espetada tinha um tomatinho cortado ao meio e uma bolinha de queijo. Epá, era saboroso e tal, mas a mlata já estava a ficar com uma certa larica.

Quando começou a “party” entrou em cena o DJ. Basicamente um dos funcionários da empresa que sabe meter uns cds e tal e coiso. O homem nem sequer fazia cross-mix, fazia fade-out numa musica e depois começava a próxima. É claro que a primeira música a ser tocada foi o “I got a feeling” dos Black Eyed Peas (please say it ain0t so!). Se desse para exprimir em palavras o sentimento de pena pelo moço que senti naquele momento acreditem que o faria. Ouvi uma ou duas músicas e entrantao o pessoal começou a dispersar, o autocarro que ia levar o pessoal de volta para o escritório estava de saída e eu resolvi ir jantar. Já eram sete e picos. Jantei por ali pelo LX Factory e fui para o carro. (a festa ainda não tinha acabado, esperem).

No restaurante, tirei a t-shirt e jantei calmamente. Depois do jantar dirigi-me para o carro com a t-shirt enrolada na mão. A meio do caminho passo por um “carocho” (arrumador de carros, provavelmente) que se vira para mim e pergunta: “estão a dar camisolsas?” olhei para ele e ainda pensei em dar-lhe a minha, mas não o fiz. Respondi-lhe que não e segui até ao carro e depois para casa.

By Pedro